Lembro-me de uma menina legal com quem eu estava saindo há
alguns anos atrás. Convidei-a para ir ao cinema. Aquele já era o nosso terceiro
ou quarto encontro. E embora tivéssemos disposição para nos vermos, os encontros
não estavam sendo empolgantes. Para nenhum dos dois. A gente até tinha em mente
que o outro valia a pena, no sentido de que éramos duas pessoas disponíveis e
bem intencionadas, mas esse era o único e insuficiente elemento motivador.
Chegando no cinema, pedimos pipoca. O atendente falou para esperarmos estourar mais. Enquanto o milho cozinhava, a menina me dizia que adorava o barulho da pipoca estourando. Que provocava nela uma sensação gostosa, de alegria. Sorri e concordei. E completei dizendo que o cheiro também era muito bom. Realmente, pipoca combina com tudo o que é bom na vida. Filme, jogos, aniversário, amigos. Pipoca deixa tudo mais leve, até mesmo a tristeza. E apesar de ser algo tão simples, é sempre uma experiência agradável fazer pipoca. Enquanto estoura, tudo em volta vai ficando com o cheiro. Ele toma conta do ambiente. Inebria. As pessoas em volta às vezes ficam enjoadas com o cheiro forte, mas para quem está comendo é sempre muito bom.
Nossa pipoca ficou pronta. Um balde cheio. Colocamos nossas
mãos ao mesmo tempo no balde e comemos as primeiras. Nos olhamos. Sem sal.
Continuamos nos olhando como se buscássemos no olhar do outro a confirmação de
que algo estava estranho ali. De fato, sem sal. A menina pegou um sachê no
balcão e despejou sobre o balde. Melhorou.
Segurei a mão dela e caminhamos até a sala do filme. Ela
comentou que a minha mão estava fria. Sorri. Sempre foi. Sempre fui. Sentamos em
nossos lugares. O braço entre os assentos não suspendia. Mais um elemento
dificultador em algo que já não estava muito fácil. Lembro-me de todo o filme. E
percebi depois que isso também não era um bom sinal.
Terminou a sessão. Ainda havia pipoca no balde. Voltamos
conversando qualquer coisa sem importância e comendo. Não que ainda estivéssemos
com vontade da pipoca, mas ela estava ali, sobrando, à toa, estava paga e
tínhamos tempo.
Acompanhei a moça até a porta de sua casa. Abracei-a pela
cintura e ela envolveu meu pescoço com os seus braços. Nos beijamos. E veja só
que curioso: foi o beijo de sal mais sem sal que já dei. E tenho certeza de que
ela sentiu algo parecido. Mas não atribuímos culpas. E nem cabia fazer isso ali.
Apenas nos despedimos.
Eu voltava segurando ainda o balde de pipoca. E já comia as
últimas. Até que elas acabaram e eu pude ver no fundo do balde aqueles milhos
parcialmente queimados que não estouram. Sempre tem uns. Recebi uma mensagem da
menina. Ela enviou um smile para mim. Respondi com um agradecimento pela
companhia, um "boa noite" e enviei um smile de volta. Depois disso nunca mais
nos falamos. Nunca mais nos vimos. Desfiz-me do balde. Havia acabado. Alguns
milhos simplesmente não viram pipoca.