Gosto quando nos sentamos lado a lado. A mesa é muito grande e atrapalha a nossa intimidade. Além disso, acho que fica mais bonito para quem vê de fora. Você sabe que eu sou um pouco exibido. Algum jovem com o talento de Da Vinci pode passar na nossa frente e resolver nos pintar como em A Última Ceia. Pois tudo isso que nós temos é uma obra de arte e merece ser eternizado à base de aquarela.
Jantar contigo é quase como casar contigo. O restaurante é a igreja, bem decorado e aconchegante, pronto para receber os mais apaixonados. A mesa é o altar, diante da qual nos colocamos, numa proposta espontânea e conjunta. O garçom é o padre, que nos orienta e nos convida a dividir um prato para dois. E logo você me olha e diz "aceito", e espera que eu aceite de volta. E o nosso desejo é, então, prontamente atendido.
A comida é o próprio casório. Feita para nós. Temperada conforme a nossa decisão de como degustar aquele momento. Eu posso até dizer que não me importaria estar em um restaurante ou em um boteco, desde que eu estivesse contigo. E isso não seria exatamente uma mentira. Mas eu desenvolvi uma certa atração pelo o que é sofisticado, de forma que não posso ignorar a influência externa na minha inspiração.
A sobremesa partilhada é a nossa festa de casamento, onde nos divertimos com uma dança de colheres, e nos derramamos em calda quente no meio da pista, inebriados pela música ambiente. A gente se esbalda e eventualmente se suja, e sorrimos, e fotografamos, em pleno deleite pelo doce sabor daquele momento.
Talvez eu seja um pouco intenso. Brinco dizendo que é porque eu sou de Áries. Mas confesso que só acredito em signos quando preciso de algo para colocar a culpa pelos meus defeitos, já que no fundo eu ainda não atingi a virtude de assumir todos eles. Para a minha sorte, você gosta disso.
E assim, sacramentados, saímos do restaurante. Ainda insaciados, partimos para a nossa noite de núpcias. Que, convenhamos, não precisa de analogia com nada.