A velha Teresa somava oitenta anos de idade nas costas e ainda possuía carinho de sobra para preparar o café com leite de seu esposo. A tranquilidade dava o tom daquela manhã, que se descortinava sem pressa, como manda a boa cartilha dos domingos. Um pequeno beija-flor desconfiado se aproximava do basculante da cozinha, onde um bebedouro encoberto por coloridas pétalas de plástico chamava a sua atenção. No canto da pia, um radinho de pilha engordurado resistia ao tempo, valente, permitindo que Roberto Carlos cantasse. Nosso amor é demais E quando o amor se faz Tudo é bem mais bonito Nele a gente se dá Muito mais do que está E o que não está escrito Enquanto o café ia perfumando a casa ao coar num pano encardido do pó de outras manhãs, Teresa se atentava no beija-flor. O pássaro bicou duas vezes a água misturada com açúcar antes de ser tomado por uma ousadia que fez com que ele entrasse pelo basculante e batesse as asas, imóvel, diante da idosa. Nesse i