Eu estava na farmácia quando avistei Sônia (nome fictício). Imediatamente me
escondi atrás de uma pilastra para que ela não me visse também. Sônia é uma
senhora de uns sessenta anos; alguém que eu não conheço o bastante para ter
assunto, mas que ao mesmo tempo eu conheço o suficiente para me sentir na
obrigação de ter que falar mais do que um “oi”—situação essa que eu detesto.
Sônia veio em minha direção, sem me notar. Virei de costas para ela. Não é antipatia, juro. É apenas timidez; um terrível desconforto. A simpatia (ou a falta dela) é uma característica que nos é dada, depende de interação com alguém. Eu não posso ser antipático com uma pessoa se ela não teve sequer a oportunidade de me ver e, portanto, de me considerar como tal. Logo, decidi me esquivar de qualquer interação com Sônia sem culpa.
Fui para outro corredor enquanto Sônia escolhia sabonetes. Mesmo que eu já
tivesse pego tudo o que queria, supus que ir para a fila do caixa naquele
momento me deixaria exposto. Resolvi então que era melhor deixá-la ir primeiro
e passei a circular feito ninja pela farmácia, observando a mulher de canto de
olho para não ser flagrado. Parei diante dos preservativos e puxei um pacote
de Jontex para disfaçar (embora fossem tempos de vacas magras e sabia-se lá
quando eu teria a oportunidade de usar). Finalmente, Sônia se dirigiu ao caixa
e não demorou muito para que saísse dali.
Aliviado, pude então pagar minhas compras também. Ao me virar apressado para
ir embora, no entanto, esbarrei de frente com a maldita, que havia esquecido
seu porta-moedas no balcão. Com o impacto, meus produtos caíram no chão e
saíram da sacola. Prestativa e pedindo desculpas, Sônia se abaixou junto
comigo para pegá-los, item por item. “Nossa, Renan, é você! Quanto tempo!”.
Até que ela pegou também a Jontex. “Pena que vocês crescem rápido”,
comentou. Para o meu desgosto, Sônia ia na mesma direção que eu. Passei cerca
de dez minutos torturantes caminhando ao lado dela, pois, além de tudo, Sônia
é evangélica ferrenha e logo começou a insinuar que eu deveria me
casar—provavelmente motivada pelas camisinhas que viu e supondo que minha vida sexual fosse desenfreada. Pai, por que me abandonaste?
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